terça-feira, novembro 30, 2004

O reverso do sistema

O sistema de que se fala no futebol português, apesar de todos o dizerem por meias palavras, é o controlo que o Porto tem da arbitragem. Mais do que claro, aliás, nas escutas telefónicas de árbitros e dirigentes do porto publicadas pelo Independente há uns anos e pelo caso das férias de árbitros no Brasil pagas pelo FCP através da agência de viagens Cosmos, dos irmãos Oliveirinha.
Diz-se que há também o reverso do sistema: uma forma hábil que foi encontrada para financiar o sistema a partir das oportunidades que ele próprio cria. Ou seja, o sistema transforma jogadores medíocres em campeões, permitindo que eles sejam vendidos por valores muito acima do seu real valor.
Assim, nos últimos 15 anos, entre Futre e Paulo Ferreira, o Porto vendeu dezenas de jogadores para clubes endinheirados da Europa, mas com excepção do mediano sucesso de Fernando Couto, Jardel e Ovtchinikov, todos fracassaram com maior ou menor estrondo nas suas novas aventuras.
Decidi fazer o onze dos maiores fracassados de entre as vendas de estrelas do Porto nos últimos quinze anos. E era só isso que queria fazer. Mas dez minutos de pesquisas no Google para saber informações sobre os anos em que foram transferidos e para onde proporcionaram-me informações interessantes. Se não, vejam:
Guarda redes: Vítor Baía. Transferido para o Barcelona em 96/97 como grande craque, voltou para o Porto dois anos e meio e muitas dezenas de frangos depois. Treinador do Barça em 96? Bobby Robson, ex-treinador do Porto. Adjunto do Barça em 96? José Mourinho, hoje ex-treinador do Porto.
Lateral direito: Secretário. Vendido ao Real em 96 como o melhor lateral direito da Europa, voltou ao Porto depois de uns anitos a aquecer as bancadas do Bernabéu, como forte candidato a jogador mais ridículo da história do Real.
Centrais: Geraldão. O pontapé-canhão das Antas foi vendido em 91 ao Paris Saint-Germain, e nunca mais se ouviu falar dele. Treinador do PSG em 91? Artur Jorge, ex-treinador do Porto.
Emerson. O possante médio defensivo que podia jogar a central foi vendido ao Middlesbrough em 96 como um dos melhores médios da Europa. Passou também pelo Corunha, mas sempre sem grande sucesso.
Lateral Esquerdo: Esquerdinha. O barrigudo lateral portista foi vendido ao Zaragoza em 2001, e nunca mais se ouviu falar dele. Treinador-adjunto do Zaragoza em 2001? Narcis Júlia, hoje treinador adjunto do FC Porto.
Médios-centro: Doriva. O novo Dunga foi vendido em 99 à Sampdoria, transitando logo em 2000 para o Celta de Vigo. Passou por vários clubes sem sucesso nem notoriedade. Treinador do Celta em 2000? Victor Fernandez, hoje treinador do FC Porto.
Chainho. Trinco vendido ao Zaragoza em 2001, passando em 2002 para o Panathinaikos. Hoje joga sem brilho no Marítimo. Teinador-adjunto do Zaragoza em 2001? Narcis Júlia. Treinador do Panathinaikos em 2002? Fernando Santos, ex-treinador do FC Porto.
Extremos: Sérgio Conceição, vendido à Lazio em 1998 passou por diversos clubes italianos, sem sucesso, antes de regressar ao FCP. Hoje joga no Standard de Liège.
Capucho. Vendido ao Glasgow Rangers onde nunca foi titular absoluto, joga agora sem brilhantismo pelo Celta de Vigo, na segunda divisão espanhola.
Avançados: Jorge Plácido. Vendido como craque ao Matra Racing em 88, nunca fez nada de relevante. Voltou ao Porto e acabou a carreira nos Lusitanos de Sant-Maur. Treinador do Matra em 88? Artur Jorge.
Domingos. Vendido ao Tenerife em 97, como grande avançado, voltou para o Porto um ano e meio depois, sem ter feito nada de relevante. Treinador do Tenerife em 97? Surpresa... Victor Fernandez, actual treinador do Porto.

Convém referir que neste período, e entre alguns falhanços, Benfica e Sporting venderam, entre outros, Figo, Rui Costa, Stanic, Balakov, Aldair, Ricardo Gomes, Valdo, Juskowiak, Fernando Meira, Boa Morte, van Hooijdonk, Marchena, Gamarra, Cadete... enfim, alguns jogadores que tiveram brilho e sucesso por onde passaram, como é normal.

Ele há grandes coincidências... se estas foram encontradas com 10 minutos de Google, imagine-se as coincidências que não encontraria uma investigação jornalística séria...

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