domingo, março 23, 2008

I/E/migrações

O plano era simples. Agarrar o borrego pelas patas da frente e hipnotizá-lo com uma chispa de lume. Depois: corte rápido: batatinhas: cebola: forno muito quente e prato. Assim mesmo. Porém, o borrego era gado fino. Patinha tratada no salão do Rolo. Gravata de seda. Fato estilo colonial de linho egípcio. E, um cachimbo aromático que, pensei – mal – ser o tempero. Eu, que sirvo refeições desde o século de Péricles, tenho, como podem imaginar, visto muitas coisas, mas um borrego com ares de David Livingston… Sentei-me muito convictamente, e com a segurança que a experiência de servir à mesa há 25 séculos inevitavelmente trás, olhei bem nos olhos do bicho. O borrego que não era burro nenhum, e que, já cá deve andar há tanto tempo quanto eu, percebendo a minha hesitação, pisgou-se. Cabisbaixo e derrotado, sentei-me ao canto da cozinha à espera de uma epifania que me salvasse o almoço de Páscoa. E foi então que recordei o Morrison. “Esta semana no Pingo-Doce, lombinho de sangacho em tomatada e coentros só 99 cêntimos”.E, mais que a conveniência do preço, apreciei o estar morto. Pois, se são conhecidas as manhas dos borregos, as do sangacho são as mais temidas. Há aliás uma história…

2 comentários:

Anónimo disse...

És um totó, é o que é...

tcravidao disse...

Teria, teria um totó se não cortasse o cabelo desde Novembro. À parte isso, também gosto muito de ti.