É impressionante o número de mal entendidos que teima em acontecer. Entre pessoas que se conhecem mal entendo melhor; afinal há maneiras diferentes de dizer ou fazer as coisas e a mensagem pode sofrer interferências por falta de conhecimento mútuo. Há preconceitos que levam tempo a erradicar. Há medos e barreiras de afastamento que demoram a dissolver. Mais a mais, há normalmente pruridos em questionar ou tirar dúvidas por falta de confiança. E o erro segue, a confusão perpetua-se e, nos piores casos, as pessoas afastam-se e as relações esfriam. Daí a importância de falar abertamente, esquecidos os melindres castradores, para resolver as situações. Isto no caso de haver realmente interesse em conhecer a pessoa em causa para além da superficialidade do imediato.
No outro extremo ficam as boas intenções que resultam em tantas e tantas vezes em death by friendly fire - lá por vir do lado amigo não quer dizer que não doa na mesma. Lá diz o povo, naquela perspicácia reunida pela experiência e condensada em frases lapidares (tantas e tantas vezes cheiínha de asneiras mas adiante): de boas intenções está o inferno cheio. A maior parte das vezes acontecem por desconhecimento de causa, por inépcia ou excesso de inocência mas as consequências podem ser tão más como as decorrentes da pior malícia.
Então nos casos em que as duas coisas (mal-entendidos ardilosamente urdidos) acontecem ao mesmo tempo é o verdadeiro salve-se quem puder. Valem depois as horas de conversa para desatar esses nós górdios sociais. Por mim, prefiro sempre, na dúvida, perguntar, ainda que, por vezes, perguntar ofenda. A seguir vem a parte de entender as respostas e aquela história do bom entendedor tem muito que se lhe diga. Depende do entendedor, da meia palavra, de quem a diz, de como a diz e quando. É necessário uma cumplicidade acima da média para ler pensamentos, adivinhar intenções e antecipar necessidades e nem todos a têm, pensem disso o que pensarem. Da minha parte gosto bastante de frases não ditas, de innuendos e jogos de palavras mas dentro de certos limites, até porque há riscos associados a esta práctica, que, a ser continuada, pode levar a alguma falta de frontalidade ou esconder alguma fobia.
Por isso, seja ao vivo e a cores, por mail, sms, telefone, blog, carta (gosto tanto), sinais de fumo, telegrama cantado, post-it, messenger, VOIP, pombo-correio, fax, tambores, sinais de luzes, morse ou o que seja, conversem, falem, entendam-se! Blá, blá, blá, yada, yada, yada. Há dias em que mesmo uma conversa da treta sabe bem. E as operadoras de tele-e-não-só-comunicações agradecem.
Há pessoas-cebola à espera de serem descascadas, camada após camada, para além da casca castanha desinteressante! Há pessoas-melancia, verdes por fora, vermelhas por dentro, à espera de serem talhadas! Há pessoas-ananás, agradáveis debaixo da casca espinhosa! Claro está que há sempre uma ou outra peça podre na fruteira mas isso faz parte das surpresas do processo...