um amigo para a vida
Tinha 40 anos, era professor de latim e fumava SG Filtro. Tresandava a tabaco. O odor emergia do bigode cerrado, volumoso e amarelecido. Colocava os dedos que entalam o cigarro muito junto dos lábios pressionando-os contra os dentes. Arregalava os olhos, chupava força, e as bochechas metiam-se-lhe cara dentro. Em seguida, retirava o cigarro da boca (ficando este muitas vezes preso na secura do lábio superior) esticava a língua tesa, pontiaguda e muito lisa, para fora, e mantinha uma massa de fumo cinzento na garganta, que logo, de um trago, inspirava com um pequeno silvo. Porém desse fumo imenso, apenas expirava uma ligeira nevoazita que lhe descia pelo nariz, amarelecia o bigode por debaixo das fossas nasais, e se espraiava levemente contra o vidro da mesa onde estavam os cadernos e o dicionário. As aulas eram dadas numa pequena mesa, com uma camilha de renda coberta por um vidro redondo. No meio, um cinzeiro atulhado e anguloso, por cima, um candeeiro redondo que continha a luz nos limites da mesa. E era assim, que este homem garantia duas vezes por semana a experiência do asco e da repulsa. Falava pouco, exigia muito e era absolutamente justo, mas tinha esta forma de fumar, que se sobreponha a tudo. Ou a quase tudo. Pois mais intenso só os toques ocasionais que ao descruzar as pernas, ou a mudar de posição na cadeira, dava sem querer nas pernas do professor. Que arrepio! Era como meter bem fundo as mãos naquela língua hirta e seca. O medo, esse, nascia quando os botões da manga do casaco tocavam no vidro da mesa para ementar a vermelho no meu próprio caderno, algum erro no caso, ou na declinação.
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