sexta-feira, outubro 15, 2004

O pontilhismo orgânico.



Andar pela cidade tem coisas assim. Vai uma alminha a pensar na vida em passo de pensar na vida, quando de repente no centro do centro, num sítio por onde passam milhares de pessoas diariamente, uma forma estranha entra pelo enquadramento dos olhos e um novo movimento na arte nasce. A técnica utilizada pelo artista é o chamado pontilhismo orgânico e pode ser encontrada nos passeios, nas escadas e em alguns casos de virtuosismo técnico em paredes.
O pontilhismo orgânico, ou mais vulgarmente designado por vomitado, exprime através da cor, densidade, forma, continuidade, projecção e textura, toda a identidade idiossincrática do artista. Pela obra que descansa em cima da calçada, é possível ao olhar experimentado e critico, avaliar todas as influências daquele quadro. Se a arte é resultado de determinadas condições histórico-materiais então o pontilhismo orgânico é disso o exemplo acabado. Se, para além da representação figurativa, a pintura pode ser ela própria a representação do movimento ou do gesto, como em Pollock por exemplo, então o pontilismo orgânico, vulgo cabritado, assume-se hoje, como o maior desse expoente. Não são os gestos do braço, mas as pulsões violentas do estômago, não são os traços longos, mas os desvios das ancas.
Recém chegado aos movimentos da arte, este tipo de pontilhismo não pode deixar de ser "engagé" politico-ético-filosoficamente. Comprometido com a limpeza do vestuário, com a direcção do vento e com a fluidez das linhas.
Arte democrática, popular e acessível a todos o pontilhismo orgânico sofre do movimento censório típico das sociedades burguesas. Se o grafitti conseguiu vencer o lápis azul dos funcionário das edilidades, o vomitado no passeio luta todos os dias contra esses esbirros do poder opressor. Deixem o vomitado em paz e assim se defenda a ultima cristalização artística da cultura urbana deste princípio de século

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