terça-feira, outubro 12, 2004

o gato

Era uma vez um gato. Um gato, tão gato que apenas por uma vez ficou doente. A dona, e no fundo empregada do gato há mais de 6 anos, levou-o ao veterinário. Radiografias, uma punção lombar e uma zaragatoa no animal, foi o suficiente para que o felino se curasse e a dona se apaixonasse pelo veterinário. Se o amor da dona pelo médico dos bichos, demorara 20 minutos a nascer, o do médico dos bichos pela dona explodiu instantâneo quando ela entrou pela porta com o felino nos braços.
"Se o gato está curado, nunca mais a irei ver". ? pensou o clínico. Se calhar, em vez de uma sutura absorvível pelo organismo gatal, uma mais antiga e a exigir o retorno ao consultório para retirar os pontos enormes, garantirá que a saudade não se prolongue por mais que uma semana.
E ela voltou. E ele tirou os pontos ao gato. Mas de novo o mesmo problema. Gato curado, dona longe. Por isso, um pequeno mas certeiro pisão na cauda felina, garantiu um tratamento com 5 mudas de pensos, duas suturas e uma pequena intervenção cirúrgica. E de novo o gato estava bom. E isso era mau: para ela que o deixava de ver e para ele que a deixava de ver. Por isso, uma palmada na parte da perna do animal que só os veterinários sabem onde é, garantiu um gesso, uma operação, fisioterapia e a manutenção daquele amor por mais três meses.
Este amor não tinha cartas, não tinha mensagens, nem sequer tinha telemóveis, este amor tinha um gato. Ou ia tendo pois o bicho, escrito como as árvores de mensagens dos amantes tinha já decido fugir. Com a fuga aristocrata planeada, o bichano lançou-se à estrada. Ora, os tratamentos dos últimos meses, os períodos de convalescença e as sessões de fisioterapia, retiraram a este animal toda a agilidade que noutra ocasião lhe tinha permitido sem dificuldade desviar-se do carro que o projecta no ar, o faz rodopiar e cair de queixos no chão. O barulho dos pneus acordou a dona. " estás a ver, ainda não estás bom para sair, tens de ficar melhor." Com um sorriso e com duas metades de gato nas mãos foi ter às urgências com o veterinário. E pela primeira vez ia estar com ele à noite

2 comentários:

Softy Susana disse...

não sei se era a intenção, mas a mim deu-me vontade de rir! :)

Anónimo disse...

Não duvido que a intenção fosse essa. A leitura desta crónica foi o melhor que me aconteceu pela manhã.
V.G.