Anita, dia 152
Há cento e cinquenta e dois dias que aguardo que alguém me venha buscar.
Eis que chega mais uma puta. Morta. Daqui não consigo perceber se se nota a causa da morte. Acho que está inteira. Odeio quando as putas chegam inteiras. O empregado começa a despir-se. È sempre a mesma história com o tipo que faz as escalas às terças. A rapariga deve ter mais cinco ou seis anos que eu, e não é difícil perceber que tem uma deficiência mental qualquer. A cabeça é demasiada grande para aquele corpo pequeno que o empregado já começou a foder. Como eu gostava que ela passasse ao estado de "rigor mortis" neste instante. A cabeça enorme bate inerte contra o inox da mesa de dissecação. O som parece vir directamente das nádegas peludas do empregado que se contraem ao bater contra o corpo. Para a frente e para trás, um anel de brilhantes num dedo, risca o metal da mesa. O som o é finíssimo e arrepia. Apesar de assistir a isto todas as terças-feiras, confesso que ainda me causa uma certa angustia ver este gajo magro a fornicar como um animal os orificio dos corpos que aqui apanha. Acho que é da vulnerabilidade destas peças de carne prestes a serem desmanchados pelos vermes e acho que é da solidão e do silêncio. Depois de o empregado se vir para cima desta mulher, depois dele apagar as luzes, não se ouvirá mais nada. Nada. Nem o som de umas molas de colchão que estalam quando alguém se vira e nem o dos lençóis a serem puxados. Não há um barulho que humanize este o escuro. É isso que me arrepia.
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