terça-feira, janeiro 23, 2007

Compro uma caixa. É de plástico, branca, esterilizada, e tem lá dentro quatro hambúrgueres frescos. Comovido, em homenagem ao civilizado acesso que os taparueres proporcionam aos produtos alimentares, leio, detalhadamente, os ingredientes do bife picado. 80% de carne de vaca. 80% de carne de vaca? 80% de carne de vaca! Leio: ovos. Ovos! Farinha animal? E-339! E-423! E-544! Gordura vegetal e corantes. Abro a caixa. Um aviso: “contém nitratos”. Nas mãos, tenho um hambúrguer kitado, na mente, um ready-made do tunning alimentar e no fogão uma sertã a crepitar. Passo às frituras. A carne frita, mas guincha também, e, é assim que vai ficando de outra cor. Protejo a cara com as mãos, reviro a peça, pressiono com a espátula e num gesto coloco-a num prato. Provo que tal como um opel corsa xuning, apesar de não ser corsa continua opel, o meu hambuguer apesar de continuar redondo, sabe a salsicha. Provo um hambúrguer que sabe a outra coisa, almoço com a sensação de que tudo isto tem um sentido que não alcanço, bebo um trago de água que sabe a limão, e fico a desfrutar aquele suave aumento de circulação sanguínea após uma refeição, responsável pelo adormecimento ao Sol, pelos acidentes de viação e um certo sentido da vida mediterrânica.

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