terça-feira, dezembro 07, 2004

Lição de alternância democrática

Até à vitória de Durão Barroso e do PSD nas últimas legislativas havia uma prática em Portugal que, apesar de reveladora da pouca-vergonha do país, acabava por ser saudável: o governo que entrava dava um pontapé no rabo a todos os militantes do partido do governo anterior que encontrava pelo caminho e que não estavam protegidos com um vínculo definitivo à função pública.

Durão Barroso foi mais inteligente e percebeu que de nada valia andar a despedir gente que voltaria a ser contratada na próxima mudança de poder. Assim, socialistas, sociais-democratas e populares poderiam conviver alegremente na administração pública, sem sobressaltos, sem despedimentos, sem conflitos. E tudo apenas com prejuízo da despesa corrente do Estado.

O caminho foi fácil: convenceu-se a Ferreira Leite a congelar as contratações para a função pública, o que permitiu que durante dois anos e meio apenas tenham sido contratadas pessoas por pedido expresso dos responsáveis das entidades. Ou seja, pessoas dos partidos e seus amigos. Em contrapartida os socialistas foram-se arrastando nas instituições, sem serem despedidos e à espera da mudança de governo para voltarem a progredir na carreira.

Mas o que Durão não previu foram dois anos e meio de guerrilha interna dentro das instituições do Estado. Os socialistas apreciaram o facto de não terem sido despedidos, é verdade. Mas não deixaram de ser socialistas por causa disso. Fizeram campanha, passaram todas as informações escandalosas possíveis para fora, sabotaram tanto quanto puderam o trabalho do governo.

Os do PSD talvez tenham aprendido a lição. Mas, se perderem as próximas legislativas, tê-la-ão aprendido demasiado tarde. Se os socialistas forem governo teremos 13 anos consecutivos (6 de Guterres, 3 de PSD e 4 de Sócrates) sem despedimentos de socialistas na função pública. O Estado será deles. Os socialistas, por outro lado, sabem bem o que têm que fazer se não quiserem ser sabotados a toda a hora e todo o instante: assim que ganharem as eleições devem correr com todos os tipos do anterior governo que sejam de nomeação política ou que ainda estejam a contrato. Assim, a lição estará terminada.

4 comentários:

Anónimo disse...

Um elogio ao PSD ou um insulto encapotado?
É que sabes bem que o PSD não morre de amores pelos PS´s que lhe roem a administração pública e a sua coexistencia não é uma vontade da presente maioria, sim uma imposição das políticas orçamentais.

Assim sendo, agrada-me que o aparelho estatal fique despojado dos laranjas contratados.
É da maneira que se vão expulsando os "rolhas" - aqueles que estão com quem lhes garante o lugar.
Sem querer, o Durão despoletou um processo de selecção natural.
Um bem-haja para ele.

Anónimo disse...

É falso.
Dou um exemplo: o Instituto Camões.
Todas as chefias - altas e médias, independentes e socialistas (estes últimos quase todos imcompetentes, é certo) - foram substituídas por militantes laranja e azul/amarelo (igualmente ou até mais incompetentes).
Mas a direita disfarça menos e atribui vencimentos (erário público) bem mais elevados que os anteriores - veja-se o caso de Celeste Cardona ou Mira Amaral.

Bem haja.
AdamastoR


http://substrato.blog-city.com

Anónimo disse...

Há um, pelo menos um exemplo anterior de fidelidade partidária, na gestão de um órgão do Estado, a favor da oposição.
O presidente da Junta Autónoma de Estradas, no consulado de Ferreira do Amaral sobreviveu à queda do cavaquismo. Daí passou a fornecer informações que o seu partido utilizava, na Assembleia da República, como arma de combate ao governo do Guterres. Cravinho, que então era ministro das O.P., desmontou publicamente o trabalhinho de sapa do homem e pô-lo na rua.
Não me lembro do nome do bicho e gostaria de saber em que gamela come agora.

VG

Anónimo disse...

OUTRAS PRÁTICAS DE ALTERNÂNCIA ou
ora dizes tu, ora desdigo eu.

O Paulinho da Feiras bombardeou-nos ontem pela rádio, com o anúncio da construção de componentes de blindados na ex-Bombardier, num discurso afirmativo, com números de postos de trabalho directos e indirectos a criar, e outras minudências que me atordoaram. O bombardeio continuou hoje pela manhã quando despertei ao som da voz do ministro da Defesa.

Agora, ao fim da tarde, leio no Público online que «O ministro de Estado e das Actividades Económicas, Álvaro Barreto, negou hoje que tenha sido assinado qualquer contrato para a construção de parte dos novos blindados do Exército nas instalações da Bombardier, ao contrário do que afirmou ontem o ministro da Defesa, Paulo Portas.» (?) «Já hoje, a empresa Bombardier negou a existência de um acordo para a construção de blindados.»

Depois queriam governar...

Bem hajas Sampaio, foste muito a tempo de mandar a cambada para outro lado.

VG