segunda-feira, fevereiro 23, 2004

Saltwater wells in my eyes

Era eu um miúdo quando alguém me tentou explicar, em frente ao mar da Figueira da Foz, que as ondas vêm em ciclos de sete. E que se ficarmos a olhar atentamente para elas e se contarmos até sete, veremos novamente a primeira (aproveito desde já para pedir desculpa à malta do surf, incluindo o meu colega de blog. Mas ainda que tudo isto esteja errado, serve-me a metáfora). E eu lá fiquei, encantado, a olhar para o mar, a tentar ver se a teoria se confirmava na prática.

Mais ou menos pela mesma altura era comum que os jovens das séries americanas de televisão fossem surfistas e estivessem sentados na praia, com a prancha espetada na areia, à espera da "sua onda". E também eu passei a estar sentado em frente ao mar, ao fim da tarde, depois da correria do resto do dia, a tentar perceber qual das sete ondas daquele mar era a minha. E depois de decidido isso, a contar de sete em sete, para a ver de novo. E que alegria era vê-la de novo...

E imaginava, como imagino, que para um surfista nada haveria de melhor que encontrar a sua onda, e nada mais desesperante que deixá-la passar.

Aprendi mais tarde, com Heraclito, que a mesma água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte. E que, portanto, as ondas também não voltam.



E por isso, hoje, quando sete ondas depois não é possível apanhar uma que escolhi como minha, fica-me a alegria de a ter visto de novo, e a frustação de ela ter passado e de poder não voltar ao meu mar.

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