Saltwater wells in my eyes
Era eu um miúdo quando alguém me tentou explicar, em frente ao mar da Figueira da Foz, que as ondas vêm em ciclos de sete. E que se ficarmos a olhar atentamente para elas e se contarmos até sete, veremos novamente a primeira (aproveito desde já para pedir desculpa à malta do surf, incluindo o meu colega de blog. Mas ainda que tudo isto esteja errado, serve-me a metáfora). E eu lá fiquei, encantado, a olhar para o mar, a tentar ver se a teoria se confirmava na prática.
Mais ou menos pela mesma altura era comum que os jovens das séries americanas de televisão fossem surfistas e estivessem sentados na praia, com a prancha espetada na areia, à espera da "sua onda". E também eu passei a estar sentado em frente ao mar, ao fim da tarde, depois da correria do resto do dia, a tentar perceber qual das sete ondas daquele mar era a minha. E depois de decidido isso, a contar de sete em sete, para a ver de novo. E que alegria era vê-la de novo...
E imaginava, como imagino, que para um surfista nada haveria de melhor que encontrar a sua onda, e nada mais desesperante que deixá-la passar.
Aprendi mais tarde, com Heraclito, que a mesma água não passa duas vezes debaixo da mesma ponte. E que, portanto, as ondas também não voltam.
E por isso, hoje, quando sete ondas depois não é possível apanhar uma que escolhi como minha, fica-me a alegria de a ter visto de novo, e a frustação de ela ter passado e de poder não voltar ao meu mar.
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