quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Almoçamos?

É necessário imaginar que estamos no meio da ponte 25 de Abril. Mais, é necessário imaginar que estamos no ponto mais alto da ponte. A seguir é preciso imaginar a vista. Está? Bem, agora, viramo-nos para Sul e recuamos aos dias em que Lisnave trabalhava em pleno. E que é que vemos? Vemos uma multidão de operários a entrar todos os dias nas entranhas da fábrica, vemos os fatos macacos azuis alinhados, sentimos o movimento da hora do almoço, os sons das cantinas o leve odor do guisado e, ao final da tarde, de novo o burburinho da saída dos operários. Guardemos estes imagens. Agora, e ainda do mesmo local da ponte, olhemos para norte e assumamos que estamos nos dias de hoje. Feito? – bem eu espero – E? o que é que vemos? Vemos uma multidão de operários a entrar todos os dias nos edifícios das avenidas novas, vemos os fatos macaco azuis, feitos fato escuro e gravata, sentimos o movimento e a pressa da hora do almoço e ao final, de novo, ouvimos o burburinho da saída dos operários.
Antes de concluir é melhor sair daqui, não vá passar um avião mais rasante. Já sentados na esplanada do op art, concluiremos: o operário da Lisnave não era dono dos meios de produção, o operário das avenidas novas não é dono do seu tempo.

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