terça-feira, junho 19, 2007

A vida

A vida é composta de três partes: Nascer, Viver, Morrer.

Parte I: Nascer
Depois de 9 meses (mais ou menos) de confortável vida intra-uterina a coisa não é fácil. Sair apertado de rompante para tanta luz e barulho, roupa àspera, mãos chatas, beijos repenicados, colchões rijos estraga completamente o dia de qualquer um. Isto para não falar nas fotografias e nas visitas imbecis que teimam em grunhir umas coisas incompreensíveis. Será/foi/terá sido/é um dos piores dias que vos poderão calhar em sorte. Se tiverem mesmo sorte nunca vos acontecerá. Por outro lado, depois de passar as coisas só podem melhorar. E daí...

Parte II: Viver
Começa logo a seguir à primeira parte e vai mesmo até ao início da terceira. É a maior das três mas é mesmo muito sobrevalorizada. Afinal que gozo pode ter passsar uma série de tempo (de horas a anos) a ter de cumprir regras? São as leis da física, o código da estrada, o código fiscal, a escolaridade obrigatória, a lei militar, as normas da decência, conduta e boa educação, a lei da selva, as leis de Murphy, os Standard Operacional Procedures da empresa, os direitos da Criança, do Animal e do Homem (não necessariamente por esta ordem), a Constituição, a lei do mais forte, o código do trabalho, o programa obrigatório de vacinação, as leis do futebol, o protocolo de Quioto, o código ético e deontológico, as condiçoes contratuais dos empréstimos bancários, televisão, luz, àgua, gás e telefone e internet, as leis da vida, as leis da genética, as regras da gramática e o acordo ortográfico, a convenção de Genebra, as instruções do monopólio, o código civil e o penal, as condições da garantia do que compramos, o sistema internacional de unidades, a lei da oferta e da procura, os 10 mandamentos ou equivalente religioso ou moral e, não menos importante, o regime da propriedade horizontal, vulgo condomínio. Chiça penico, abrenúncio Satanás, arre espiga... é que nunca mais vos largam... tens de fazer isto assim e aquilo assado, não podes fazer isso... por vocês não sei mas eu dava-me por contente em ser um calhau e lentamente erodir-me durante uns milhões de anos, com o ocasional arremesso, e, sorte máxima, saltitar umas quantas vezes numa lagoa ou mar. E vá, se encontrasse uma pedra bem feita, simpática, gira e bem disposta, soltar o tradicional piropo geológico “és cá uma lasca!” e talvez pensar em juntar os trapinhos e gerar uns tantos seixos...

Parte III: Morrer
Tradicionalmente a parte mais fácil de cumprir neste teatro. Muitas vezes nem temos de fazer nada. Basta estar tranquilamente sentado numa esplanada na faixa de Gaza, o gajo com ar esgazeado (tradicionalmente um local que diz: This is a local shop for local people. There's nothing for you here em árabe) sentado ao nosso lado puxa um cordel e já fomos. Ou isso ou engasgados com uma ervilha, fulminados por um raio, esmigalhados por um piano de cauda, afogados numa cuspidela do Shaq (rare but it's been known to happen) ou ainda vítimas de uma súbita e irreprimível vontade de descobrir o sabor de um gelado de cianeto. Umas são mais divertidas que outras. Se não o conseguirmos fazer sozinhos é certo que há sempre um bom samaritano disposto a ajudar-nos a fazer a travessia do estado vivo para o morto e nem cobram nada pelo bilhete. Convém avisar que a viagem de regresso quase nunca está incluída no negócio.

E pronto, é isto, mais coisa menos coisa. Há quem diga qualquer coisa sobre um filho, um livro e uma árvore mas isso já são picuinhices...

25 comentários:

g. disse...

Então e aquela parte da vida em que temos de engolir sapos (croack!) e aturar grandes escroques que se passeiam pela crosta terrestre, e ainda por cima sem tugir nem mugir (sim, porque se soltarmos a pantera que há lá em casa, lá vem o Código Penal). Pode calhar na família, no emprego, no vizinho do lado, enfim...no Mundo. E temos de viver com os energúmenos às costas, uma vez que estão em todo o lado. Depois há a parte boa que são as criaturas que existem à face da crosta terrestre e que servem para fazer o contraditório desta cena. Essa é a parte gira em que não temos de cumprir (quase) nada e somos positivamente surpreendidos!
...E ainda faltam as regras do "flirt". Com os diabos mais as regras do flirt que, ainda por cima, estão sempre a ser subvertidas ao sabor de cada "tipo" de flirt. Eu acho que assim não vamos resistir...Valha-nos os coletes de força (para o dia em que resolvermos abolir as regras) e as regras do Monopólio para animar isto!

Enquanto resolvemos e não resolvemos abolir as regras, resta-nos o gostinho da sua subversão...AHAHAHAH!

jbfmartins disse...

Olha!!! ... o Arroz de Casca a falar de "Flirt"...
será que foi ao Centro de Saúde tomar a vacina e foi abordada pelo Segurança de bigode?
Caríssima, o flirt é algo de muito profundo.

IM disse...

heeeheheheheheehheheheh...
Em primeiro lugar é curioso ver que as 1ª e 3ª partes são justamente aquelas que estão fora do nosso controle: não pedimos para nascer (alguém decidiu por nós) e alguma lei da natureza ou divina decide por nós que temos de morrer não nos dizendo nem quando, nem onde. Vivemos entalados entre esses dos momentos também submetidos a uma catrefada de coisas que não escolhemos e que temos de cumprir!
Sermos uns calhaus (mesmo a sério!!! eheeh) dava-nos imenso jeito se bem que estivéssemos também à mercê de mãos alheias e a garantia de encontrar um "match-calhau" seria muito pouca...bem, mas os calhaus não têm vida e isso já é bom...às vezes também parecemos uns calhaus, sem vida,desgastando-nos com a erosão dos dias...

g. disse...

Sr. Martins:
Fui ao Centro de Saúde e, curiosamente, tropecei em si carregado de caixas de Prozac - em fuga da ausência de "flirt". É que consigo, nem o porteiro, nem mesmo as cervejas do Sr. Fernando querem nada. Têm medo da contaminação.

Catarse disse...

Gostei muito do "match-calhau"!

Ser um calhau implica um modo de estar na vida muito zen. Se for no mau sentido implica ser mesmo empedernido das ideias... assim por assim prefiria a primeira... ainda que, às vezes, em dias monótonos de obrigações e regras o nosso estado de espírito se assemelhe realmente a uma vulgar pedra da calçada, mais uma no meio de tantas...

Antes ser uma pedra numa fisga, back to the old school days! ;)

IM disse...

...essa coisas das fisgas...eu fiquei a odiar fisgas quando em vez de calhaus-bébé o pessoal punha umas coisas horrorosas, pequeninas, de arame, em for de U que doiam que se fartavam quando eram atiradas para as pernas!!!
Quanto a ser calhau, até que não é mau, desde que não seja com aquela conotação de burro, teimoso, etc...como dizes, implica uma vida muito zen, um "tá-se bem","não xungues", "tou noutra", "fica fixe"...eheheheh...no problem...lololo

Catarse disse...

Ui, ui! Grampos! Foram proibidos pela convenção de Genebra, perdão, pela convenção de Xabregas, em 1991, juntamente com o papel higiénico molhado, os sacos de àgua de alturas superiores a 3 andares, os wedgies, os morteiros e bombas de mau-cheiro, as balas de arroz ou papel de alumínio disparadas por canetas, os ovos podres e as cuspidelas do topo do Empire State Bulding (de Xabregas, claro)...

Para mais informações sobre o tema consultar "Livro perigoso para rapazes":
http://www.edusurfa.pt/area.asp?seccao=4&area=1&artigoid=11381 (um livro absolutamente delicioso, o verdadeiro manual da asneira saudável e educativa)

g. disse...

Mais uma expressão engraçada: "não xungues". Não conhecia. É coisa do nuorte ou vem pura e simplesmente de "xunguice"?

E o que são wedgies?

Catarse disse...

porque o saber não ocupa lugar:
http://www.urbandictionary.com/define.php?term=wedgies

e a variante atomic wedgie:
http://www.urbandictionary.com/define.php?term=atomic+wedgie

g. disse...

Já estou esclarecida.
Bonito, realmente...Também entravas neste tipo de filme com os teus amiguinhos quando eras um pouco(só um pouco) "mai" novo?

Catarse disse...

Claro! Dentro do tipo de castigos não letais que se podem inflingir é um clássico... faz parte do percurso de um rapaz passar por estas fases de terrorismo juvenil... algumas passam, outras nem por isso... confesso que ainda hoje acho que algumas coisas se resolviam bem com uma bola de papel higiénico molhado cirurgicamente arremessada ao meio da testa... simultaneamente humilhante para quem sofre e libertador de tensões para quem atira. Ou na sua versão para jovens adultos pseudo responsáveis mas ainda com vontade de ageniar (acho que isto nunca me irá passar): paintball! Gosto tanto! Liberta o assassino que há em ti!

IM disse...

Eia!!! É isso!!!! Grampos!!!! Já não me conseguia lembrar dessa coisa!!!!
E quanto às diversões...bem, Catarse, desconfio que tenhas tido uma infância difícil no meio dos Punks Underground de Xabregas High!!!!eheheheheheheeheh...cada brincadeira mais amorosa!!!! ehehehe...eu confesso que a que mais gostava era mesmo a dos papelinhos cuspidos de uma caneta bic amarela no meio de alguma aula mais entediante e sem prejudicar, obviamente, o aproveitamento escolar...eheheheh...sim, IM era uma rebelde indomável, motoqueira, mas com muito boas notas!

Arrozinho, "xungues" vem mais ou menos de "xunguice", mas é mais "não azedes", "não abandalhes"...eheheheh...

Catarse, paintball??????

Catarse disse...

Bom, confesso o meu distânciamento de Xabregas High... era mais Anexas, Eugénio de Castro e Brotero High... tudo ali por perto da Solum e do glorioso Calhabé! ;)

Paintball sim! Muito bom! 20% de adrenalina, 20% medo, 20% dor, 20% instinto assassino, 20% competição.
Dias seguintes: 50% dor, 50% stress pós-traumático. Aconselho a todos! Um dos meus sonhos era paintball no IC19 (ou mesmo no trabalho) mascarado de gangster a mandar bala para todo o lado! ;)

g. disse...

A infância/adolescência de Catarse foram seguramente difíceis e ele agora tem destas coisas. Lol!
Acho que podias fazer uma campanha de publicidade catártica para a modalidade Paint-Ball: «Venha jogar! Liberte o assassino que há em si, antes de começar a atirar bolas de papel higiénico molhadas à cabeça do seu chefe, namorada, mulher, filhos, companheiros de trânsito, etc». É que estou mesmo a ver sairem espingardas de um certo "polo" branco em pleno IC19!
Essa coisa da vontade de ageniar tem muito que se lhe diga: acho que tenho mais agora do que em criança!

IM, tou a "ber" que "xungues" é mesmo uma expressão do nuorte.
Motoqueira a menina? Olhe, não a imaginava nada a passear os livros de mota. Estilo: toda de preto da cabeça aos pés e depois de mota (preta, provavelmente).Ah, e as capas dos livros eram forradas de preto, para além dos cadernos serem obviamente negros!

IM disse...

Há os Punks da Solum, também...ehehehehehehe...os Brotero High e os Eugénio de Castro Underground!...eheheheheh...
Quanto ao paintball é só ires a um desses aniversários de crianças e tens qualquer coisa parecida numa versão mais soft!!! ehehehehe

Arrozinho, não tens totalmente razão...a moto era cinzenta e o capacete branco (sem viseira, claro, partida há muito e sempre a partir sempre que levava uma nova!!!), a roupa preta, claro (tal como hoje...só não é moto...eu agora é mais coisas com tecto...é que já viste se essa coisa do paintball pega por aqui na ponte da Arrábida???? eheheh), mas não ia de moto para escola...não...a moto era mesmo para o resto...sempre abrir...eehehehhh...(IM é um poço de surpresas...tssss....tssss)

g. disse...

Alguém me explica o que são essas coisas (para além de nomes de blogs) da zona mondegueira a que chamam Solum e Calhabé? Eugénio de Castro era o nome de uma escola secundária, suponho...

IM, deixa lá que cinza e branco não são cores muito esfusiantes. Não te imaginava de moto amarela ou cor de rosa. Nem de moto, de facto...Isto é como as personagens dos livros. A gente cria a nossa "personagem". ;)

IM disse...

A Solum e o Calhabé são zonas de Coimbra, lá para os lados da universidade (lados é como quem diz...eu cá vivia em frente à faculdade de Economia, portanto, já grandota, fazia parte dos Olivais Doom City Streets...eheheheeh), onde está erigida a digníssima Escola Secundária Avelar Brotero por onde tive o prazer de passar...

g. disse...

Estou muito mais esclarecida. E essa da Brotero também é nova para mim. Agora começo a entender melhor algumas conversetas, que isto quem não sabe é como quem não vê...Também não sabia que havia Olivais em Coimbra. Cá em Lisboa, estou mesmo perto deles. Vejo esse grande bairro daqui da janela!

IM disse...

Pois é...a menina Arrozinho precisava de sair da capital e vir respirar os ares de Coimbra (ai, Coimbra...que saudades....)ou ainda melhor, do Porto...Coimbra agora é só de visita, de quando em vez, aos amigos que lá ficaram...mas há sempre uma passagem pela casa onde morei e aquele ar aparvalhado que deveo fazer cheia de saudades!...ai, ai....snifff...

g. disse...

Devo dizer que a Coimbra vou pouco, mas IM e Catarse sempre podem ser uns queridos e oferecerem-se para me fazer uma visita guiada por aqueles sítios especiais. :)
Ao Porto(que adoro) vou com mais alguma regularidade. E nesse caso, podes também fazer-me uma visita guiada/alternativa. Por muito que conheça bons sítios, há coisas que só um nativo da zona pode conhecer verdadeiramente. Às vezes vou só para ver exposições (recordas a do Francis Bacon em Serralves?linda!) ou espectáculos. Portanto, um destes dias - e depois da Zambujeira ;) - lá calhará um passeio à Invicta.

IM disse...

Boa!! Fico a aguardar! Faço questão de tomarmos um cafezinho...!

g. disse...

Saudades da faculdade...Pois eu não vivi essa coisa de estar longe de casa (o que tem muito mais piada!). Mas entendo que as saudades devem ser maiores... Eu também tenho muitas saudades dos momentos de pura parvoíce da minha faculdade. Quando me junto com os amiguinhos, são horas a lembrar o belo do disparate.

IM disse...

Sim, nessa idade, estar fora de casa é o melhor que nos pode acontecer: faz-nos crescer, responsabiliza-nos, aprendemos a estar por nossa conta e temos uma margem de liberdade fundamental se bem gerida (como sempre questão...). É claro que falta o miminho da mamã quando nos apetece um chazinho e não nos dá para ir fazer, quando precisamos da caminha feita e da roupinha lavada e temos de ser nós...mas faz parte...e depois, viver com amigas cria laços indestrutíveis e promete momentos de pura galhofa quando as pessoas de encontram mais tarde já numa situação completamente diferente. É uma experiência única, sem dúvida!!

IM disse...

...encontrei este pequeno "match-calhau resource"!!!

http://www.youtube.com/watch?v=Md_igjvIJTs

LOLOLOLOL

g. disse...

Já vi...É digno de qualquer Festa- Calhau da Cerveja?! A altas horas...