terça-feira, agosto 10, 2004

Coloridos.


Ontem, na praia onde o mar muito bravo aspergia as pessoas com gotículas de água salgada empurradas pelo vento, conheci um canídeo vesgo. Vesguíssimo aliás. O raio do bicho era tão cego do olho direito que tinha de movimentar o pescoço em círculo para poder ver o que estava à sua frente. Foi assim, enquanto movimentava o gasganete no sentido dos ponteiros do relógio, que espetou o nariz molhadíssimo contra a minha perna. Ao sentir o frio da ponta do focinho do canídeo, olhei para baixo. Mirei-o com se conhecesse de algum lado e antes que o cumprimentasse, o animal perguntou se eu é tinha perguntado ao mar de onde vinha o calor intenso das últimas semanas e este vento sul. Disse que sim. Então ? continuou o cão - deixe-me que me apresente. Sou a forma mamífera dos cavalos-marinhos, fui enviado por Neptuno, o bem disposto e a resposta à tua pergunta é: deserto.
O deserto é um monstro. Um monstrão na verdade. Durante a maior parte do tempo, dorme mas quando acorda começa a ter delírios megalómanos de conquistar todo o planeta. O que se passou nas últimas semanas foi um ligeiro acordar do senhor deserto. O senhor deserto acordou e começou a soprar um vento que não só aumentou a temperatura, baixou a humidade relativa e provocou os incêndios. Os incêndios são a guarda avançada do deserto. São eles que preparam o terreno para o avanço final da areia.

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