segunda-feira, agosto 02, 2004

Clareza


Algures na semana passada à conversa com amigos chegamos a esta diferença de base. Embora eu e eles concordemos que em geral os serviços burocráticos do estado não acolhem bem os cidadãos que os pagam com impostos, eu defendi que por essa mesma razão é que os cidadãos mais esclarecidos ( e com mais poder para os mudar) têm a obrigação de ser os primeiros a apresentarem-se aos balcões dos serviços e não utilizarem os seus conhecimentos pessoais na administração para resolveram os seus problemas burocráticos. Os meus interlocutores pelo contrário defendiam que se os serviços do estado funcionam mal, então quem tem conhecimentos como que está legitimado a usar do seu poder para ser desenrascar. A conversa cedo se tornou uma pescadinha de rabo na boca: Quem tem poder para mudar não sente as dificuldades, e quem as sente não tem poder para as mudar.
A resolução do problema faz-se pela adopção de uma posição ético-politica de fundo. Ou por principio se considera que todos os cidadãos são iguais, ou pelo contrário se assume com clareza que há diferenças.
Desde que me lembro que discuto este tipo de coisas com amigos e conhecidos. Conversas nos intervalos das aulas no liceu, no bar da faculdade, nas secretárias de escritórios. Mas agora é que estas conversas vão ficar realmente interessantes, pois finalmente alguns dos que discutiam, hoje já podem decidir. E é bom que falemos com clareza.

1 comentário:

Anónimo disse...

Então a esquerda que assuma que há diferenças.
Pois...é que a funcionarada pública que compõe os serviços de que falamos, aqueles do voto proletário no PCP - os mais clássicos - no PS - os mais progressistas - e no BE - os mais revolucionários e com a mania que são diferentes - são aqueles que têm a sua clientelazinha fixa de advogados, procuradores, solicitadores, TOCs, ROCs, projectistas e arquitectos, construtores civis e patos bravos, que trocam olhares cúmplices em plena fila da repartição e são atentidos "à parte" no balcão, perguntando pelo filho, pelo enteado e pelo gato do sr. funcionário público, pergunta meramente retórica porque o que o fiel cliente quer saber é dos honorários que vai receber pelo servicinho para pagar o leasing da carrinha Mercedes que a mulher o obrigou a comprar em 1120 prestações mensais.

Se a cunha for metida pelo sr. director, a coisa complica-se. Nestes casos, o director de repartição só dá para problemas que envolvam montantes superiores a 500.000 Euros.
Tudo o que seja um mero IRS, um IRC pequenino, um problema regular na Seg. Social ou um mero registo em qualquer conservatória do nosso país, só nos safamos se formos conhecidos (com potencial de troca de favores), um vizinho que convida para umas patuscadas ou um fiel cliente com conta aberta e presente suplementar no Natal e Páscoa.
De outra maneira, só se formos colegas de sindicato. Apenas neste caso não há lugar qualquer forma de pagamento.