quarta-feira, julho 02, 2003

Não há muito tempo revi o filme "O pianista". Este filme, como aliás todos os filmes, conta coisas diferentes a cada pessoa. A mim, mostrou-me a vida diária que os judeus tinham no gueto de Varsóvia. As humilhações, o terror, mas especialmente aquela incerteza diária e absurda de não saber se o próximo a morrer vou ser eu, ou o vizinho do lado. Quando o filme terminou, pensei nessa incerteza absurda da morte como uma coisa do passado. Fui para casa. No dia seguinte no jornal, um repórter descrevia a vida diária de uma familia árabe a viver nos territórios ocupados. E logo, o gueto de Varsóvia me apareceu reproduzido no médio oriente. Os postos de controle, as mortes incertas e a morte absurda. Toda a mesma violência reproduzida pelo povo violentado. "A criança abusada de hoje será o adulto abusador de amanhã" dizem os especialistas. Escrevo isto hoje porque parece que há uma ténue nuvem de paragem da guerra do médio oriente. E sinceramente espero que se siga o roteiro até ao fim; certo porém de que tal como os violentados do passado são os violentadores de hoje, também os violentados de hoje violentarão amanhã. E a paz? Por agora, talvez apenas uma possibilidade formal.

Sem comentários: