segunda-feira, março 06, 2006

João Deão


E fumam e fumam e fumam. Então, cansado de tentar pescar o olhar do empregado para lhe pedir um café, João, tira de dentro do saco uma sapateira, uma tábua de madeira e um martelo. Com o martelo, abre fissuras nas patas largas do marisco, e com as unhas saca-lhes o interior carnudo. Mastiga tudo bem mastigado e reserva o bolo alimentar nas bochechas dilatadas. Depois, retira um frasco com pimenta do bolso direito das calças, inspira-a decidido e de olhos fechados e barriga ao léu vira-se para o sol. As mulheres fumam. Uma convulsão, uma lágrima, um corrimento pelo nariz e um espirro amplo como as tempestades de granizo afasta as duas mulheres da frente do balcão. João pede o café.

2 comentários:

Anónimo disse...

Bom texto. Falta-lhe apenas um pouco mais de romantismo e o realismo que existe não é suficientemente "realista".
Já agora, qual é o objectivo do texto? Já sei que a arte não tem propriamente objectivo ou terá? Peço só umas palavrinhas de esclarecimento do leitor interessado.
Obrigado

Anónimo disse...

Brilhante!!!
muito bom mesmo!!! Que belo sonho!!!
QUando o gajo acordar e vir o dedo todo lixado vai ser lindo.... pelo menos esta é a imagem que construiu o texto sobre este meu cada vez mais decadente cérebro.