terça-feira, setembro 12, 2006

forma

Hoje comi uma pescada que estava tão longe de ser uma pescada, como eu estou longe da lua. E, eu, moro num terceiro andar! Alto. Com vista desafogada, e em que é possível, quase todos os dias ver a lua. Lá no cimo, longe, muito longe, tão longe, como estava a pescada que eu hoje comi, de ser uma pescada. Uma pescada não é um carapau, nem uma sardinha grande, nem uma perca do mar. Não! a pescada é um peixe que se não compara aos outros peixes. Uma cavala, pode ser comparada a uma solha-marisca ou a uma tainha das pedras, um goraz não passa de uma faneca avermelhada com menos espinhas, um arenque, é um atum, que gosta do frio, e uma azevia uma dourada hippie. Agora, uma pescada é uma pescada. Só. E por isso, é que como deslaça nas comparações, também não liga com molhos. Servir pescada com molhos, seja manteiga aquecida, ou singela lágrima limão, é, perdoem-me a comparação, como dizer que aquilo que hoje comi era uma pescada: não faz sentido, faz uma má digestão, moralmente é duvidoso, e tem laivos de esperteza saloia. Tipo: Sim, sim, o pão é caseiro. O vinho, sem químicos. E vai-se a ver e o pão e o vinho estão tão longe de casa, e da pureza química quanto eu estou longe da lua. E, moro num terceiro andar. Alto.


1 comentário:

joana disse...

Muito, muito, muito bom.
Viva a pescada!