II ? Reconhecimentos
Qualquer um que já tenha por, pelo menos uma vez, experimentado a sensação de ser um estranho numa terra estranha, como diria alguém, saberá o que custam aqueles primeiros minutos passados num local desconhecido, onde todos os pontos de referência se perderam, onde a própria língua é um mistério, os sinais informativos são tão úteis como se tivessem sido escritos em sânscrito por alguém com Parkinson terminal, as caras, roupas, usos e costumes tão alienígenas que parecem vindos de outra galáxia ou dalgum filme de série B com legendas amarelas dos anos 80. Mesmo os sentidos acusam a diferença, nos cheiros, nas cores e texturas, nos sons falados ou não; o próprio ar penetra os pulmões com outro feeling, diferente na humidade e na temperatura. E se isto é assim quando vamos a Badajoz imaginem se tivessem saído da vossa dimensão, após alguns milhares de anos em contra mão pelo fluxo do tempo e com o jet lag habitual daqueles que viajam por warmholes. Com ou sem corpo, acreditem que não é coisa fácil de suportar sem um bom banho quente e um copo de whisky (ou o vosso equivalente cultural e fisiológico) ? Há coisas de que nem as criaturas pertencentes às mais avançadas civilizações escapam!
Sendo que qualquer destas panaceias estava, no imediato, posta de lado por dificuldades técnicas associadas à actual incorporalidade do nosso herói, este achou por bem estabelecer uma qualquer ordem de prioridades que o levasse, o mais rapidamente possível, a consegui-las. De borla, claro está! Ora, isto traz-nos de volta ao mesmo: Sampi não tinha corpo! Ou qualquer tipo de bem material, como dinheiro ou roupa. E já lá diziam na sua terra natal: quem não tem bolsos, não rouba mais do que pode levar nas mãos ou apêndices apropriados? Quem não tem mãos ou apêndices, primeiro rouba-os de quem tenha (corolário de Sampi). E assim começou a procura por um receptáculo adequado para albergar a estranha entidade deambulante.
Primeiro critério: mobilidade! Muitas das estruturas imponentes que percepcionava estavam, desde logo, excluídas pois não lhe parecia apropriado alojar-se de modo a que não pudesse, digamos, vestir qualquer coisita inapropriada e ir dar um giro para ver quem estava, quem não estava, quem bebia, quem não bebia e tal.
Segundo critério: descrição! Apesar de, por norma, não ser esta uma das características que procurava, tinha bem presente a noção de que estava a ser alvo de uma das mais espectaculares (mesmo para os seus padrões) perseguições jurídico-moralo-legalo-ético-violento-policiais que se lembrava de ter ouvido contar desde que existem cadastros inter-galácticos.
Terceira característica: estilo! Assim como muitos de nós procuram habitats com a percentagem certa de oxigénio, azoto e dióxido de carbono, Sampi tinha necessidade de estilo.
Quarta característica: diversão! Sexo, consumo de substâncias/experiências para fins de recreio e jogo ocupavam os lugares do pódio, mesmo que o pódio tivesse 426.234 lugares em vez dos três habituais aqui na Terra.
Quinta e última: uma rede neuronal desocupada! Como isto excluiu os golfinhos, Sampi escolheu o Homo Sapiens.
(to be continued)
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