quinta-feira, setembro 28, 2006

desalentos de cidadania parte I

Notícia de última hora: A vergonha na cara esgotou-se no território nacional! Acompanhando a tendência dos mercados internacionais, onde se assistia desde há muito a um decréscimo na produção e procura deste bem, tão necessário ao normal desenrolar da vida em sociedade, verificou-se hoje aquilo que há muito se esperava: já não há vergonha na cara!

Outros produtos associados também já rareiam em Portugal e no Mundo, como por exemplo, a capacidade de indignação, a empatia, o interesse pelo bem-estar do próximo, a caridade desinteressada, o altruísmo. Em contraponto, a corrupção, activa e passiva, o egoísmo, a mesquinhez, a maldade, o desinteresse, a conspiração e a mentira estão perto dos seus valores máximos de sempre.

Quantas e quantas vezes não assistimos agora a cenas nas ruas onde alguém está caído ou pede ajuda, sem conseguir mais do que indiferença. A insegurança tomou conta de todos, e agora, receosos de que a senhora de idade que tropeçou à nossa frente faça parte de alguma conspiração para nos roubar, enganar ou alistar em alguma religião enganosa, desviamos o olhar e seguimos o nosso rumo, de preferência com o som da música bem alto nos auscultadores do iPod e com os óculos escuros que bloqueiam sons e visões das nossas cidades degradadas.

Durante alguns anos, a máxima de Adam Smith sobre o egoísmo individual (cada um querer o melhor para si e trabalhar para isso) gerar riqueza para as nações onde habitam, governou a grande maioria das sociedades ocidentais com evidentes benefícios para o estilo de vida daqueles que conseguiram uma completa inserção e adaptação às estruturas que as sustentam. No entanto, alguns desvios à normal evolução foram sendo introduzidos lentamente, sem que nada fosse feito para o evitar, como a má distribuição da riqueza, o desigual acesso à educação e a boas condições de vida.

Em vez disso, o apodrecimento interno dos sustentáculos da democracia corroeu a base em que tudo assentava sem que disso se desse conta. Noções básicas como a separação dos poderes executivo, judicial e legislativo; o jornalismo imparcial (o quarto poder); o interesse e a participação dos cidadãos nas estruturas democráticas; a moralidade e a ética, entre outros, foram sendo lentamente corrompidas na sua essência, sendo até, actualmente, parte do problema e não parte da solução.

(continua)

1 comentário:

Anónimo disse...

Alan Smith?
Deve ser o irmão sociólogo do Adam...

Estes teóricos nunca me enganaram, têm sempre um familiar nas trincheiras inimigas.