quarta-feira, agosto 16, 2006

Álcoois

Eu nunca engatei uma gaja numa discoteca. E sei que nunca vou engatar: sóbrio não entro em discotecas, alegre, o ritual entedia-me, bêbado, prefiro dançar e, muito bêbado não me deixam entrar. Porém, ontem, tentei.

E de repente, enquanto tocava com o harpejar da pontinha dos meus dedos as ondas desordenadas do som e da luz, censurei a vergonha de olhar uma desconhecida nos olhos e, postei-me à frente dela.

Dancei, dancei e continuei a dançar. Olhei-a nos olhos, invadi o espaço social de distância e tentei acertar os movimentos dos meus ombros, com o ondular da cintura dela. Não consegui.

Então a gaja avança em direcção ao meu ouvido e põe a mão em cima do meu ombro. Eu fecho os olhos, para me concentrar em absoluto nas primeiras palavras. Já não te vi em algum lado? Nunca a vira. Juro. Mas dado o contexto, percebi que não devia entender a pergunta literalmente e devia perceber que aquilo era apenas uma desculpa para começarmos a conversar.

Precisava de uma resposta à altura da coragem dela para quebrar as barreiras do desconhecimento. Uma resposta forte, uma resposta total. A resposta perfeita. A resposta que dispensa toda a conversa supérflua. A resposta profunda mas simples, banal mas única, biunívoca mas certeira.

És tão boa que até chupava o polegar do teu ginecologista. Seria a resposta adequada? O inicio de uma carreira de engate em discotecas? O Graal dos engatatões? Aproximei-me, coloquei a mão na cintura, rasei-lhe os lábios e segredei-lhe ao ouvido: És tão boa que chupava o dedo grande do pé ao teu ginecologista.

E passou Shakira, Madonna e creio que U 2, e só no meio da música seguinte a rapariga respondeu. Eu também estou a fazer isto pela primeira vez. E sorriu. Então, perdi a vergonha de a olhar nos olhos, de invadir o espaço de distância social e de lhe falar ao ouvido. Agora, as ondas que captava com o harpejar dos dedos tinham o mesmo ritmo que os meus ombros e a cintura dela sincronizados.

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