segunda-feira, fevereiro 07, 2005

sexo ( só para fazer um teste no counter)


È necessário ter mais cuidado com quem aplaude que com quem critica. As palminhas, os sorrisinhos, as palmaditas nas costas, e os parabéns mecânicos devem arrepelar com veemência a pele das costas de quem os recebe. César Monteiro faz parte dessa família de gente que percorreu e percorrerá a história da Humanidade a ser insultada pelos que têm poder, elogiada por quem não percebe nada e adoptada pelos outros. Dizem que César era um homem cruel, dizem que roubou dinheiro para fazer um filme sem imagens (exactamente o mesmo que Michael More fez no seu ultimo filme), dizem, dizem, dizem...ver os filmes é que está quieto..." eu? ver um filme português? dass! é bué parado... e o som, não se percebe nada...". O público não é todo igual, e é necessário saber qual é que interessa, e isso, César, sabia-o bem. Por vezes há uma ilusão que os filmes, ou outra arte qualquer tem de agradar a todos. Pois não só não tem, como não deve. O compromisso é com o próprio e com mais ninguém. E tem de ser um salto no escuro, sempre. Um tresloucado salto para o vazio em que tudo depende de acreditar. E Sophia de Mello Breyner Andresen acreditou que um esqueleto andante que um dia lhe saiu ao caminho numa praia do Algarve queria fazer um filme honesto sobre a sua vida. Como em pleno cavaquismo Teresa Patrício Gouveia também acreditou num argumento que à maioria do público português é conhecido pela palavra "pentelho" pronunciada por um homem já entradote. Quem não acredita, ou quem nunca acreditou perde, e muito, pois nunca vai ter o interesse de ver o filme "Quem espera por sapatos de defunto morre descalço" em que César Monteiro filma uma das mais belas cenas de amor entre um pai e um filho. As personagens estão numa contra-luz de ripas de madeira iguais às das casas de praia. O pai, de pé e de braços esticados move-se como e fosse uma árvore que lentamente o vento mexe, enquanto o filho qual esquilo, se pendura nos braços, trepa pelas costas e balouça no pescoço. É pena que não esteja acessível a todos.

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