quinta-feira, agosto 21, 2008

A praia

Um amigo disse-me um dia que era no extremo da competição que se revelava o verdadeiro feitio de cada um. Eu concordo mas acrescento outro valoroso campo para a observação sociológica: a praia.

Despidos dos pruridos das vestes ocidentais (agora convertidos à moda indo-árabe-asiática das túnicas, sarongues, pidangues e calças não sei quê), revela-se mais do que o que está à vista e se à vista desarmada há coisas que nem à bala lá iam, estendendo a experiência a toda a capacidade de percepção sensorial captam-se subtis nuances que vão bem para além da camada celulítico-adiposa, do couro bronzeado e estafado, das curvas reveladas pelo bikini cavadão (nobre e sentida homenagem a essa banda rock de São Paulo), das tatuagens e piercings que ritualmente se pavoneiam pela areia (ainda não tenho mas não estão arredadas de todo das cogitações), das mamas espetadas e dos rabos caídos, dos surfistas de domingo, das tias enxutas, dos meninos engatatões, das pin-ups siliconizadas, dos namorados e namoradas enlevados de paixão (não necessariamente emparelhados nesta mesma ordem mas empenhadamente empilhados na ilusória solidão de quem não tem olhos para mais nada do que o seu mais que tudo), dos prosaicos, vetustos mas indispensáveis vendedores da bola de berlim provida ou não do proverbial creme, dos baywatchianos mikes que atentamente vigiam a costa de pijama amarelo e vermelho rodeados de babes loiras, dos cães que, analfabetos, 'tadinhos, não sabem que transgridem ao passear-se no areal, dos piqueniques familiares gloriosos (já pouco vistos no seu real esplendor das feijoadas cozinhas no camping gás ou mais afoitamente na fogueira nas dunas), da geleira azul recheada de calorias, do guarda sol da Sagres, da toalha das enfermeiras em lingerie, do jornal desportivo que se desfolha ao vento, do "cantante" a pilhas que abafa o detestável som do mar que enrola na areia, das raquetes cada vez mais pujantes nas suas trocas de bolas empunhadas por Nadais e Kornikovas, ou mais comummente por McEnroes e Navratilovas, da bola que brinca na arena de areia dos brinca na mesma, das construções e castelos de areia erguidos por futuros engenheiros e destruídos por sádicos pedreiros, do volley que teima em não ganhar nada mas pulula, salta e avança como o sonho de uma criança, do poupadinho protector solar (de que gosto tanto do cheiro) usado com parcimónia como se de um raro perfume se tratasse...

Ahhh... a praia! O que vale é que isto é só saudade do fim de semana a falar e Sábado lá estarei a engrossar as filas de trânsito de capota aberta para ir poupando tempo de exposição solar enquanto inalo a minha dose de escape!

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