João Deão II
O som de um carro que tenta derrubar os rails da auto-estrada acorda João. Que barulheira. O tipo ainda se vai é magoar. Incapaz de lidar com a intimidade que a posição com Teresa supunha, levanta-se como uma massa mole e arrastada. Tenho que ir buscar água. Queres água. Eu trago. Ainda tenho. Não preciso. O tempo que dormira dera-lhe uma sensação de peso, de prostração e uma certa dificuldade em manter o equilíbrio. Pálido começou a descer as quadrículas de pedra da base da ponte em direcção à auto-estrada. Um pé mal posto, e uma porção de areia esguia fizeram-no escorregar e criar aquilo a que os miúdos chamam de bate-cu. Tal foi secura do choque que trincou a língua. João quase nem se apercebeu, tal era o estado de dormência em que a sono o tinha deixado, mas quando deixou a sombra da ponte e leva com o Sol de chapa na nuca acorda para um estado de absoluta tensão. Faz movimentos abruptos, rápidos enquanto frenético procura uma porcaria de garrafa de água que ele jurara que comprara ontem. Onde está? Não tens pernas! Não ias fugir! Mas onde raio... então recordou os miúdos que se guerreavam em cima dos jipe. Bate com força a porta do carro e exaspera pela primeira vez por estar assim parado no meio do Alentejo. Que grande merda! E volta de gatas a subir as lages da ponte onde Teresa dava agora um pequeno gole numa garrafa de água. Magoaste-te? Estiveste a dormir e ficaste com a tensão muito baixa, por isso é que...Teresa ri-se com a boca mas mostra carinho com os olhos. João senta-se desengonçado, mete a boa na garrafa de água e sorve um grande gole. Depois dá AHHHH de satisfação ostensiva como se assim gozasse com as circunstâncias, coloca a parte interior do cotovelo sobre os olhos e tenta dormir.
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