quinta-feira, julho 20, 2006

João Deão I



A2. 15 de Agosto. Duas das tarde. 55º. Trânsito parado como paradas ficam as serpentes gordas e pretas nas curvas a rebrilhar ao sol. Pernas e braços pendem das janelas e portas abertas. Dois miúdos fazem dos tejadilhos abertos dos jipes trincheiras e atiram sacos com água. João e Teresa estão debaixo de uma ponte à sombra. Estão aqui há 24 horas. Teresa prende os cabelos com um lenço, limpa o suor do nariz com os dedos. Atira ar para a testa quando João lhe pega na garrafa de água e sem lhe tocar com os lábios, a verte para a boca. Já bebi chá quente mais frio. Estás a entornar tudo. Teresa pega no lenço que tem no cabelo e oferece-o a João. João recusa e passa as costas da mão pela boca para se limpar. Estou a começar a passar-me com o raio dos putos a desperdiçarem água. Teresa puxa uma erva que cresce entre duas lajes. Tenta mas é dormir, se começar a andar chamo-te. João fecha os olhos com força, passa os dedos sobre as pálpebras, deita-se muito direito sobre as lajes frescas. Teresa afasta uma pedra do sítio onde ele encosta a nuca, e encosta-lhe a cabeça sobre o colo. Os miúdos param de atiram água e João dorme encolhido sobre o colo de Teresa que de pernas cruzadas apoiada para trás pelos braços masca o resto da amarga que arrancou do chão.

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