Nunca comprei cebolas. Tenho medo. Muito. Queria um quilo de cebolas. Eis a frase que nunca pronunciei. As cebolas são tanto. Eis o preço que nunca escutei. Ontem estive quase, quase, mas mesmo quase, quase para comprar um daqueles sacos pequenos de rede com cebolas dentro. Peguei-lhe, meti-o no carrinho de supermercado e avancei para a caixa. Mas, como só tinha as cebolas para pagar, achei que a rapariga da caixa podia desconfiar que estava ali a tentar a resolver um problema pessoal. Abandonei o carrinho entre duas promoções de bolachas e fugi. Corri, corri e corri. Parei numa bomba de gasolina para comprar água e reparei que também ali já se vendem cebolas. Que claro não comprei. E voltei a fugir. Fugi toda noite e cheguei onde escrevo agora. Um promontório sobre um mar calmo que comove. Vejo as linhas das ondas, umas pessoas humanas e escrevo. Escrevo, porque sempre assim foi. Adeus.
quarta-feira, junho 28, 2006
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