segunda-feira, julho 25, 2005


Júlio entra a correr para casa de banho da loja, dá meia volta à lingueta de metal e do lado de fora o verde passa a vermelho.
-fico aqui fechado até falar com o gerente!
-saia mas é daí para fora, que já chamei a policia.
-Vou deitar o fogo a isto tudo.
-O senhor está numa retrete quer incendiar o quê?
-então mato-me, pronto, vou cortar os pulsos aqui se não me chama o gerente.
-E com que é que vai cortar os pulsos? Com algum bocado de papel higiénico. --Vá, saia mas é dai que a policia está a chegar e depois é pior.
Bolas, nem um estudante de jornalismo desempregado a fazer um part-time numa loja de conveniência consigo que me dê credibilidade. Será que ele está a fazer bluff com a policia? Deve estar. Para que é que sai de ao pé das couves e dos bois.
(aqui a meditação aprofundou-se e o narrador não consegue saber em que pensa a personagem). Porque a personagem continua a meditar de forma íntima e inacessível ao que o criou, o narrador decidiu tomar medidas, por isso coloca dois negociadores da P.S.P do lado de lá da porta e uma equipa dos G.O.E a pairar sobre Júlio pronta para lhe torcerem o pescoço. Júlio sabe que não pode ter pensamentos tão profundos, inacessíveis ao contador. Júlio sabe qual costuma ser nestes casos o destino das personagens. Ele sabe. Ele soube, porque entretanto um dos operacionais do G.O.E que estivera a almoçar cozido em canal caveira e que enfardara uma garrafa de vinho, teve uma tremura num dedo. Ora, o tremelique nos mindinhos é coisa vulgar em quadros dirigentes depois do almoço bem regalo, agora num agente especial da P.S.P que paira com uma metralhadora sobre um Júlio que reflecte, dá ao narrador a justificação narrativa para acabar com a raça das personagens que têm segredos.
Fora da loja um arrumador pede umas moedas aos enfermeiros que acabam de estacionar em segunda fila impedindo o descarregamento de milhares de holandeses no pavilhão chinês e nas "very tipical casas de fado, fandango, bailinho da madeira, pauliteiros, etc..."

1 comentário:

Anónimo disse...

não é má ideia não senhor fazer uma short-story-urbano-depressiva-com-remeniscências-campestres-para-manter-o-leitor-agarrado-ao-blog.
Aproveito que o narrador parece ter sofrido um delirium tremens para exigir uma narração fechada à história do júlio. Senão sou bem menino para me agrilhoar a meia duzia de bits deste blog e de só sair com um epílogo catita!!