Feito a lápis de cor
Já não te lia há tanto tempo. (Não, os meios modernos de escrita não contam.) Já não te lia mesmo há muito tempo. Já tinha saudades (e nem sabia...) dessa escrita fechada, densa e, ao mesmo tempo, harmoniosa. Dessa escrita em que os parágrafos em que te mostras têm pouco de ti e em que nos outros, quando te escondes, posso apostar que estás inteira. Reconheci o teu texto, a tua forma de escrever, como se reconhece um cheiro importante que não se cheira há vinte anos.
Acredito que as pessoas deveriam estar distribuídas pelas casas do mundo segundo um critério de afinidade. Sonho com uma vida num bairro em que os meus vizinhos são os meus amigos e pessoas com quem gosto de estar e falar. Há milhares de pessoas no mundo que, neste preciso momento, discutem se nos supermercados os jornais devem estar ao lado dos livros ou ao lado dos croissants. Querem saber se leio notícias como quem lê um romance ou se passo os olhos pelas páginas enquanto tomo o pequeno-almoço? Por mim, ponham os jornais ao pé do papel higiénico! Por que é que não se preocupam antes com quem mora no 2.º esquerdo, ali bem ao lado do meu 2.º direito?
Se alguém o fizesse, se alguém o tivesse feito bem, o meu apartamento, estritamente à medida das minhas necessidades, seria geminado com a tua vivenda espaçosa, com jardim e cão aos saltos. Falaríamos todos os dias, tu mostravas-me as coisas que escreves e eu nunca teria estado tanto tempo sem te ler.
2 comentários:
Todos sonhamos com o Bairro do Amor! A maior concidência é que estive a falar dele antes de ler este post. Abraço.
esse teu mundo feito numa folha qualquer e a lápis de cor é simplesmente bonito. acrescentaria o azul do céu, um barco de papel e um castelo. todos os dias as conversas de varanda para varanda seriam tão demoradas que o nascer do sol não nos escaparia. boa utopia para um dia como o de hoje.
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