sexta-feira, janeiro 20, 2006

O que Alegre fará dia 22 à noite

O cadáver jazia ainda sobre a cama, já vestido, à espera do caixão.
A passos lentos aproximou-se e fitou durante alguns momentos a figura hirta e mirrada do defunto. De repente, num ímpeto, deitou-lhe as mãos às abas do casaco, ergueu-o e rouquejou, fora de si:
- Estás morto, é o que te vale. Mas mesmo assim não vais deste mundo sem duas bofetadas na cara, covarde!
E deu-lhas!



Miguel Torga, A Confissão (Novos Contos da Montanha)

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