domingo, outubro 05, 2008

SimCapitalism ou o plano Paulson

Há mais ou menos 15 anos jogava-se um jogo para PC chamado SimCity. Era um jogo de estratégia cujo objectivo era construir, de raiz, uma cidade. A grande restrição ao sucesso no jogo era o dinheiro disponível para investir na cidade.
Um amigo mais atento descobriu que bastava a qualquer momento durante o jogo escrever a palavra FUNDS para o dinheiro disponível aumentar substancialmente. Mas havia um problema. Inevitavelmente, pouco tempo depois da trapaça, um desastre natural abatia-se sobre a cidade, destruindo-a quase por completo.
Solução: escrever funds, receber o dinheiro, gravar o jogo e sair do jogo. Quando se voltava a entrar o jogo mantinha o dinheiro-extra, mas não guardava a memória da batotice, pelo que a catástrofe natural não se abatia sobre a cidade. Era o melhor de dois mundos.
É esta a essência do plano Paulson. Investimentos loucos que permitem a um grupo de pessoas, em particular os gestores de bancos e sociedades de investimentos, ganhar muitos milhões de dólares. Enquanto o mercado sobe essa malta ganha fortunas. Quando a catástrofe inevitável se abate sobre o mercado, penalizando os que arriscaram em demasia, estes usam a sua influência para que o resto da sociedade pague os seus desvarios. O plano Paulson é o "gravar" e "sair" do Capitalismo.
O Plano Paulson não é desenhado para ajudar estes proprietários de casas agora falidos. E bem, porque eles são responsáveis pelos investimentos que fizeram em casas. O Plano Paulson ajudará os banqueiros e os gestores dos bancos, que em poucos meses estarão novamente a receber salários obscenos e prémios de produtividade de milhões.

No fim de tudo, neste Capitalismo de batotice, grandes impérios serão construídos, mas não por sabedoria ou grande conhecimento dos mercados financeiros. Por trapaça e chico-espertice e por exploração do trabalho dos americanos que não fizeram asneira, que não compraram a casa errada, que não enganaram ninguém, que não quiseram enriquecer facilmente, e que, injustamente, pagam 700 mil milhões de dólares de batotice alheia.

Pagará, no fim, a economia americana, que investirá o trabalho de um ano de mais de 33 milhões de americanos (contas feitas para um custo de 10 dls./hora) para comprar um monte de nada.

Pagarão os americanos sérios para que os americanos trapaceiros, que conseguiram mudar as regras a meio do jogo, enriqueçam.

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