Um corneto p'ra ti, um corneto p'ra ti, olá, olá! E a vida sorri!
Vejo e oiço Lobo Xavier na quadratura do círculo defender o aumento dos apoios à natalidade. E logo a seguir que os que têm rendimentos mais altos possam, a partir de um certo nível de rendimento, prescindir das contribuições para a segurança social e utilizar o dinheiro como quiserem.
Dada a defesa do apoio à natalidade (que resulta, obviamente, de um argumento de alisamento dos rendimentos per capita, transferindo dinheiro dos agregados familiares menos numerosos para os mais numerosos), o argumento coerente a defender seria que se mantivessem inalteradas as contribuições de quem aufere rendimentos mais elevados, estabelecendo-se um tecto para as pensões de reforma, promovendo-se dessa forma o alisamento dos rendimentos.
Afinal, se os que ganham muito pudessem não contribuir para a segurança social, por que não deveriam poder os que não querem ter filhos borrifar-se para as famílias numerosas e gastar o seu dinheiro, em vez de pagarem impostos?
Mas a coerência aqui não interessa nada. O que interessa é que a direita católica possa defender os seus interesses: por um lado, as vantagens financeiras para os que seguem os conselhos da obra e têm muitos filhos e, por outro, a liberdade dos que auferem rendimentos altos e não estão dispostos a redistribui-los. Sabemos bem que uns e outros são muitas vezes os mesmos. A obra ajuda quem se junta a ela. A obra é quase sempre igual a poder e dinheiro.
É querida esta direita católica. E é querido que esta avalanche de opinião que acena com o fantasma da bancarrota da segurança social para apavorar o resto do mundo e retirar-lhe assim os direitos que vão tendo - sempre em nome da sustentabilidade e das gerações futuras - não seja confrontada, ao menos, com estas grosseiras incoerências.
Quem tem obrigação de perguntar não percebe ou não quer perceber?
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