segunda-feira, novembro 13, 2006

palavras ditas

Só quem rói as unhas sabe o que é ter de procurar no bolso por uma chave e ter um canto do anelar infectado. Refiro o latejar, o inchaço, o vermelhão, e o brilho doente na ponta do dedo. Roer as unhas não é aparar a tirita branca da ponta do sabugo. Roer as unhas não é trincar delicadamente as peles que às vezes se elevam devido à secura das mãos. Roer as unhas não é encaixar, por estilo, o polegar na ponta do canino inferior. Roer as unhas é outra coisa. A apenas duas pessoas reconheço autoridade digital para me dirigirem palavras sobre estraçalhar com os dentes os dedos. Porque é precisamente isso que roer as unhas é. Macerar os dedos, faze-los sangrar, infectá-los, coze-los e depois continuar a roer, sempre e sempre até aos cotovelos. Roer as unhas é tirar as capas, é trincar as peles, é brincar com os bocadinhos na boca e cuspi-las para longe. É ter o chão do quarto com tantas partes de unhas que estas se colam aos pés molhados. É não conseguir apanhar moedas do chão. É não conseguir fazer uma raspadinha. Roer as unhas é isto. Tudo o resto é apenas uma leve tendência para chuchar no dedo

1 comentário:

Anónimo disse...

Ohhh...como eu subscrevo tudo isto!! Roer as unhas é roer-se, é roer-se a si próprio até às entranhas onde já não há unha nem osso...